Vimeo, nunca mais!

É com muito pesar que escrevo este artigo, pois ele trata do Vimeo, uma importante plataforma de hospedagem de vídeos a qual acompanho desde os primórdios do seu surgimento. O Vimeo, até certa época, era um concorrente do YouTube, até este último ser comprado pelo Google, tomando outra dimensão no mercado. Mas o Vimeo continuou se desenvolvendo, consquistando destaque no mercado de CDN (Content Delivery Networks). Tanto que o Moodle passou a ter filtros nativos para inserção de vídeos de apenas duas CDNs: YouTube e Vimeo. Tal filtro permite que basta apenas colocar um link para o endereço do vídeo no YouTube ou no Vimeo em um texto editado no Moodle para que, ao salvar, o link é substituído automaticamente por uma janela de controle de vídeo.

Os anos se passaram e o Vimeo foi tomando outro modelo de negócio, bem distinto do YouTube. Enquanto o YouTube procurava ser o repositório de vídeos abertos do planeta, o Vimeo seguiu para um nicho, de publicações privadas de vídeos. Chegou a um ponto que oferecia recursos de inserção de vídeos em outros sites com controle de privacidade. Ou seja, o vídeo só abre em outro site se estiver configurado para ser exibido em uma página do(s) site(s) especificado(s). Este recurso, unido ao fato de que o Moodle já ter um filtro nativo para o Vimeo, fez essa CDN uma queridinha de quem precisava publicar vídeos em cursos pagos, com acesso restrito aos conteúdos. O Vimeo passou a ser usado por provedores comerciais de cursos, escolas, faculdades, entre outros tipos de negócio que faziam uso do Moodle.

Então veio 2021, e já chegou com um aporte de US$ 300 millhões para o Vimeo, de modo que a plataforma conseguiu recursos para expandir sua estrutura. Porém, quem aporta recursos numa empresa dessa quer lucro, e acaba redirecionando as políticas de funcionamento do serviço. Não foi diferente com o Vimeo, que consolidou sua mudança de modelo de negócio ao longo de 2021 até anunciar, em meados de 2022 sua nova forma de operar. Passou então a focar no nicho de publicação de vídeos profissionais, mais bem produzidos e bem mais longos. O preço pelo mesmo serviço mais que dobrou para novos assinantes e, pior, os pacotes mudaram, com restrições que tornavam o uso do Vimeo inviável para educação. Ao contrário de antes, que tinha como limitação o tráfego mensal de upload de vídeos, passou a permitir apenas o upload de 10 vídeos mensais ou 120 anuais. Quem precisar de mais, precisa multiplicar o já majorado preço da assinatura.

Também passou a causar surpresas nos usuários, que nunca foram cobrados por tráfego elevado. Mesmo porque a própria plataforma não fornecia uma ferramenta de monitoramento preciso de tal tráfego. De uma hora para outra, passei a ter notícias que usuários receberam cobranças várias dezenas de vezes o preço que costumavam pagar, sob pena de terem todos os seus vídeos deletados, e com curto prazo para resolver a situação. Algo que se ocorresse no Brasil, certamente seria levado para o Procon ou para a justiça. Receberam centenas de milhões de investimento mas o comportamento perante aos seus usuários correntes foi de empresa de fundo de quintal.

Assim, tivemos que partir para outros fornecedores de CDN, e descobrimos o quão caro esse mercado ficou após a pandemia, apesar da competição. O tráfego do GB, na maioria dos fornecedores, foi para 9 centavos de dólar por GB, embora tenhamos encontrado o Bunny.net como um fornecedor que cobra 1 centavo de dólar. Mas nenhum deles conta com o filtro nativo do Moodle para exibição facilitada do vídeo, poucos têm a visão que seu serviço pode ser usado para educação, e raros são os que têm plugin para facilitar o uso de conteúdo neles hospedados de forma controlada no Moodle (o Bunny.net não tem).

Depois da experiência do Vimeo, estamos recomendando para que nossos clientes tenham redundância de fornecedores de CDN, especialmente aqueles cujo negócio depende de entrega de conteúdo em vídeo. O Vimeo mostrou que uma mudança de política de uma empresa novaiorquina pode trazer sérios problemas para uma empresa educacional no Brasil. É mais um risco que precisamos lidar no trato desta teia de fornecedores de infraestrutura nesta constelação de tecnologias, da qual depende negócios que trabalham com educação online.

Eles não fazem a mínima ideia do mercado que estão perdendo de explorar. Mas isso é irrelevante na perspectiva de quem fornece cursos online. O que importa agora é encontrar outro fornecedor que seja confiável, de qualidade e o mais em conta possível. Vimeo, nunca mais!

PS: Citamos o Bunny.net como um serviço que encontramos em nossas buscas e que achamos interessante pelo seu preço e recursos. Porém, não estamos, por isso, referendando tal CDN e nem nos responsabilizamos se o leitor deste artigo venha a fazer uso do citado serviço.