Futuro pós-pandêmico

A pandemia da Covid-19 impactou profundamente nas perspectivas futuras de nossa sociedade. Aqui apresento alguns desafios a serem enfrentados pelos setores educacionais público, privado e corporativo, no futuro próximo. O objetivo é trazer luz sobre as possibilidades, oportunidades e ameaças que já se apresentam para educadores dos mais diversos segmentos sociais. Ao mesmo tempo, também mostro a importância de desenvolvemos competências para lidar com esse “novo normal”, independente das tecnologias que venhamos a utilizar para lidar com ele.

As maiores cidades serão menos ocupadas

A perspectiva de novas pandemias no futuro e uma vida mais segura, estimulará uma emigração de cidades grandes para cidades menores  próximas, ou para locais mais afastados das regiões centrais das metrópoles, onde os melhores empregadores sediam suas operações. Morar perto do trabalho será menos importante, pelo menos para a parte da população com maior nível de educação e que tenha informação como principal insumo de sua atividade econômica. Talvez, no médio e longo prazos, a realidade do trânsito também seja impactada. Menos gente circulando de carros, menos congestionamento e poluição. Tudo isso viabilizado pela percepção de que é possível ser tão ou mais produtivo trabalhando de casa. Ao mesmo tempo, as empresas podem reduzir seus custos com estrutura física, proporcionando melhor qualidade de vida para seus colaboradores. Algo que já era uma tendência, mas de lentíssima adesão: o deslocamento do paradigma, e de parte da cesta de custos das empresas de educação, do presencial para o virtual.

A perspectiva de ver os filhos crescerem, não ter que enfrentar trânsito todos os dias, se expor a menos riscos do cotidiano de uma grande cidade, vai compensar a incorporação do trabalho à rotina do lar. Por isso os novos projetos arquitetônicos mais sofisticados já vão resgatar o conceito de SOHO (Small Office Home Office), com um compartimento da casa voltado para o trabalho. Será um ambiente com iluminação, lay-out e acústica pensadas para este tipo de uso. Todas as tecnologias de Internet que corroborarem com este conceito sofrerão expansão de uso: fibra ótica, conexão banda larga (e até redundante), VPN, VOIP, compartilhamento de arquivos em nuvem, educação a distância, entre outras. O mesmo poderá ser ampliado no já incipiente modelo de home office em condomínios, que provavelmente se tornarão algo semelhante aos escritórios de trabalho colaborativo de start-ups, os quais atualmente já existem em diversas cidades brasileiras. Assim, mais do que nunca, precisaremos de trabalhar com informação depositada na nuvem, interagindo a distância. Por isso passaremos a dar um valor muito maior à segurança da informação, à proteção da privacidade e à estabilidade na comunicação digital.

Novo conceito do que é casa

A perspectiva de ver os filhos crescerem, não ter que enfrentar trânsito todos os dias, se expor a menos riscos do cotidiano de uma grande cidade, vai compensar a incorporação do trabalho à rotina do lar. Por isso os novos projetos arquitetônicos mais sofisticados já vão resgatar o conceito de SOHO (Small Office Home Office), com um compartimento da casa voltado para o trabalho. Será um ambiente com iluminação, lay-out e acústica pensadas para este tipo de uso. Todas as tecnologias de Internet que corroborarem com este conceito sofrerão expansão de uso: fibra ótica, conexão banda larga (e até redundante), VPN, VOIP, compartilhamento de arquivos em nuvem, educação a distância, entre outras. O mesmo poderá ser ampliado no já incipiente modelo de home office em condomínios, que provavelmente se tornarão algo semelhante aos escritórios de trabalho colaborativo de start-ups, os quais atualmente já existem em diversas cidades brasileiras. Assim, mais do que nunca, precisaremos de trabalhar com informação depositada na nuvem, interagindo a distância. Por isso passaremos a dar um valor muito maior à segurança da informação, à proteção da privacidade e à estabilidade na comunicação digital.

Ressignificação da logística

A experiência forçada de trabalho de casa mostrou que é possível interagir, trabalhar e estudar produtivamente a distância. Por outro lado, vem a perspectiva de uma resignificação das companhias aéreas no mercado (palavras da presidente da Latam Airlines). Isso implicará em encolhimento das empresas aéreas e a perda de parte da economia de escala, resultando em um aumento significativo do patamar de preços de passagens aéreas. Será que voltaremos para o nível dos anos 80? Não obstante isso ainda ser uma incógnita, já temos uma certeza, as empresas descobriram que os negócios, pelo menos em parte, fluem sem tantas viagens. Também já é certeza que países estarão menos abertos para receberem estrangeiros. O turismo se recuperará, se for o caso, apenas no longo prazo. Na realidade, o conceito de logística, de forma genérica, muda. Se a importância de transporte aéreo de passageiros diminuirá, também teremos a mobilidade urbana afetada. Menos demanda de deslocamentos locais, menos Uber, menos idas às compras ou ao restaurante. Mais logística de produtos, desde transporte de grande quantidade de bugigangas de todo tipo, vendidas via comércio eletrônico, até entrega de comida no restaurante do bairro. Isso com ou sem a ajuda de aplicativos tipo iFood ou Uber Eats.

Medicina, psicologia, educação a distância

A virtualização das relações de serviços de forte base intelectual, como medicina, psicologia e educação sempre enfrentaram barreiras culturais e legais, rompidas repentinamente pela pandemia da Covid-19. Agora, esses profissionais precisam se adequar a um novo “normal”. Novos costumes, antes considerados excêntricos, passarão a fazer parte de nosso cotidiano. Médicos especialistas já dão suporte a médicos generalistas, bem como atendem seus pacientes e até emitem receitas médicas com assinatura digital. Mas seu trabalho ainda será impactado pela mobilidade da comunicação e, consequentemente, a possibilidade de monitoramento biométrico em tempo real de seus pacientes. Psicólogos, já há muito regulamentados em atendimento remoto, passarão a experimentar interação tridimensional para ter percepções mais avançadas junto a seus pacientes. Educadores terão que ceder a centralidade do processo de ensino-aprendizagem para o educando, passando a implementar metodologias ativas de aprendizagem, presencial e/ou virtualmente. Finalmente abandonaremos, em maior escala, o paradigma educacional cristalizado no século XIX e mantido em todo o século XX.

O fosso educacional se amplia

A mobília das duas salas de aula acima simbolizam o fosso educacional já existente no Brasil. A da esquerda privilegia a exposição de conhecimento do professor, com os estudantes num papel eminentemente passivo no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, uma velada segregação entre o presencial e o virtual, mantendo os discentes longe da realidade dos problemas e soluções presentes no dia-a-dia do mercado de trabalho. A da direita tem mobília projetada para facilitar o arranjo dinâmico de grupos de trabalho, que periodicamente muda, para que diferentes grupos exerçam aprendizagem cognitiva, mas também sócio-emocional (liderança, relatoria, resolução de conflitos, comunicação, etc.). A tecnologia, que não é mostrada, está no Wifi disponível para os estudantes, e dispositivos portáteis, como smartphones, tablets e notebooks. Também em kits de robótica, aprendizado de programação e laboratórios virtuais. A abordagem é conectada com a realidade social, com problemas que devem ser resolvidos pelo estudante, e não apenas demonstrados pelo professor. Tudo isso, é claro, tendo conexão com a Internet, que faz a sala se expandir para o universo de informação disponível na nuvem. Ela chega até a residência dos estudantes, que podem interagir entre si e com os educadores, fora do horário de aula, de modo síncrono ou assíncrono. As boas perspectivas de uns é o prenúncio da tragédia para outros, sejam indivíduos ou instituições de ensino.